Em muitas histórias, o jovem rebelde é apresentado como um herói.
Apesar de seu comportamento transgressor e suas decisões erradas, ele realiza grandes feitos e consegue superar todos os desafios.
O mangá “AKIRA” (Katsuhiro Otomo, 1982) e o animê “Initial D” (Shuishi Shigeno, 1998) foram fortes influências na criação de “Rebeldia sobre Rodas”.
Todo aquele universo de velocidade, com jovens empolgados, objetivos imediatos; era como se todo o futuro deles dependesse de uma troca de marcha (e muitas vezes, dependia). Era isso que eu queria neste RPG.
Novas regras de jogo foram criadas especificamente para as cenas de corrida, e os playtests da terceira versão destas regras conseguiram trazer todo esse entusiasmo para os jogadores. Os jogadores ficam tensos em vários momentos, na dúvida entre a ousadia da aceleração ou da segurança nas manobras, e até outros jogadores ficam na torcida (torcendo por um capotamento ou por um caminhão aparecendo na avenida).
Já na fase final desta criação, o mangá “Wangan Midnight” (Mishiharu Kusunoki, 1999) confirmou esse imediatismo do mundo adolescente, com personagens desperdiçando oportunidades e arriscando suas vidas apenas para saciar a sua necessidade de velocidade.

 

Até agora, muita ação, muita diversão, muita adrenalina, porém, a intenção de “Rebeldia sobre Rodas” não é valorizar as atitudes impulsivas e ações irresponsáveis de seus protagonistas.
Na ficção, sempre existe um roteirista caridoso que poupa seus protagonistas de muitas das consequências de suas atitudes.
Neste RPG, além da função de diversão, existe a função de conscientização dos jogadores, e para isso, um tempero amargo foi acrescentado neste cenário de “heróis rebeldes”: A Realidade.
Toda essa arruaça e curtição perdem o sentido depois de algumas voltas, podendo até resultar em uma historinha boba, daquelas feitas para jogos únicos (ou para videogames de corrida, ou para filmes descartáveis,…).
Quando a realidade aparece e atropela algum pedestre, o tom do jogo fica mais pesado, e os jogadores passam a questionar as atitudes de seus personagens.
Drogas, sexo, crime e morte também fazem parte deste universo adolescente, e suas resoluções não ocorrem com um simples sucesso de rolagem de dados.
Muitas destas situações foram pesquisadas para serem abordadas em “Rebeldia sobre Rodas”.
Além de situações que podem ser vistas o tempo todo, ao nosso redor ou nos telejornais, alguns destes dramas estão em “O Diário de um Adolescente” (“The Basketball Diaries”, livro de Jim Carrol em 1978, filme de Scott Kalvert em 1995), “Eu, Christiane F., Drogada e Prostituída” (“Christiane F. – Wir Kinder vom Bahnhof Zoo”, Revista Stern em 1978, filme de Ulrich Edel, em 1981), “Réquiem para um Sonho” (“Requiem for a Dream”, livro de Hubert Selby Jr. em 1978, filme de Darren Aronofsky em 2000), “Cama de Gato” (filme de Alexandre Stockler em 2002) e “Meninas” (documentário de Sandra Werneck em 2005).
Em “Rebeldia sobre Rodas”, a história não acaba com os carros cruzando a linha de chegada. Um desentendimento, uma dívida, uma infração, qualquer ação que ocorreu durante uma história pode voltar para atormentar a vida do personagem, e serão essas consequências, de atos dos próprios personagens jogadores, os grandes monstros deste cenário.


E por falar em “necessidade de velocidade”, videogames também influenciaram em situações de jogo do “Rebeldia sobre Rodas”, os mais relevantes são “Road Rash” (Electronic Arts, 1991) e “Need for Speed III: Hot Pursuit” (Electronic Arts, 1998).
“Road Rash” foi a inspiração para a Habilidade “Agir Dirigindo”, e “Need for Speed 3” mostrou a diversão que pode ser a interferência policial em um racha.

 

Apesar das regras e descrições de procedimentos policiais, o foco de “Rebeldia sobre Rodas” não é a trama policial, e sim o drama dos personagens, que ocorrem por situações que, na maioria das vezes, eles mesmos criam.
Pode ser que alguns mestres de jogo queiram utilizar esse material para criar jogos no estilo do filme “Velozes e Furiosos” (Rob Cohen, 2001). Não existe impedimento algum para isso, aliás, existem até regras para procedimentos policiais durante perseguições, e também um arsenal para grandes cenas de tiroteio, mas o único filme da série que combina com o cenário de “Rebeldia sobre Rodas” é o terceiro, o “Tokio Drift” (Justin Lin, 2006).